Pois privilegiado é o foro
Eu não o sou (e assim lhes juro)
Vocês debatem, convictos, o Moro
Eu fico em cima do muro
Reflito, pois nunca acredito
Em quem sempre tem certeza
Muito menos em partido
Que se serve à mesma mesa
Não é que ganhei aliados
Para lá de inesperados
Na luta anticorrupção?
Houve quem marchasse ao meu lado
Até ser descoberto culpado
De também lesar a nação...
*
Entre sujos e mal lavados
Não me permito escolher
Quero todos extirpados
Das hostes do poder
A situação é insustentável
A oposição, um balaio de gatos
Esse tecido social é lavável?
Ou só vamos trocar os ratos?
São questionamentos profundos
Mas de uma verdade eu comungo:
"Precisamos limpar o País!"
Só não fiquemos na primeira camada
Lava-jato em toda a cambada
Até lhes arrancar a raiz.
*
Quisera eu enxergar a verdade
Tão clara quanto seus analistas
Mas não creio em tal divindade
Então sigo sendo um "murista"
Daqui de cima, vejo dois lados
Que, para mim, se parecem demais
À esquerda, rincões de safados
À direita, problemas iguais
Ignoram seus próprios defeitos
(Imaginam-se quase perfeitos!)
Do alto do muro, enxergo a cilada
E torço que alguém compre a ideia
De entregar logo toda a alcateia
Em insuspeita delação premiada
*
Se quiser me chamar de coxinha
Elite branca e opressor canalha
Tudo bem! Também sou morrinha,
Comunista e bandido petralha!
Só não me venha usurpar o direito
De um olhar um pouco menos estreito
Porque o rival do meu inimigo
Não é, necessariamente, um amigo
Prezado ser político-partidário
Por favor, entenda este ente ordinário
Que repudia a visão maniqueísta
Preciso lutar à minha maneira
(Ainda que sem a sua bandeira)
Só assim será justa a conquista