24.3.16

De cima do muro


Pois privilegiado é o foro
Eu não o sou (e assim lhes juro)
Vocês debatem, convictos, o Moro
Eu fico em cima do muro

Reflito, pois nunca acredito
Em quem sempre tem certeza
Muito menos em partido
Que se serve à mesma mesa

Não é que ganhei aliados
Para lá de inesperados
Na luta anticorrupção?

Houve quem marchasse ao meu lado
Até ser descoberto culpado
De também lesar a nação...

*

Entre sujos e mal lavados
Não me permito escolher
Quero todos extirpados
Das hostes do poder

A situação é insustentável
A oposição, um balaio de gatos
Esse tecido social é lavável?
Ou só vamos trocar os ratos?

São questionamentos profundos
Mas de uma verdade eu comungo:
"Precisamos limpar o País!"

Só não fiquemos na primeira camada
Lava-jato em toda a cambada
Até lhes arrancar a raiz.

*

Quisera eu enxergar a verdade
Tão clara quanto seus analistas
Mas não creio em tal divindade
Então sigo sendo um "murista"

Daqui de cima, vejo dois lados
Que, para mim, se parecem demais
À esquerda, rincões de safados
À direita, problemas iguais

Ignoram seus próprios defeitos
(Imaginam-se quase perfeitos!)
Do alto do muro, enxergo a cilada

E torço que alguém compre a ideia
De entregar logo toda a alcateia
Em insuspeita delação premiada

*

Se quiser me chamar de coxinha
Elite branca e opressor canalha
Tudo bem! Também sou morrinha,
Comunista e bandido petralha!

Só não me venha usurpar o direito
De um olhar um pouco menos estreito
Porque o rival do meu inimigo
Não é, necessariamente, um amigo

Prezado ser político-partidário
Por favor, entenda este ente ordinário
Que repudia a visão maniqueísta

Preciso lutar à minha maneira
(Ainda que sem a sua bandeira)
Só assim será justa a conquista