Estando a sós
Ousamos pesar
Os prós e nós
De transpirar
Durante outro
Ano cansativo
Desta resenha
De estar vivo
Resmungaremos
Feito idiotas
E enfadaremos
Todos à volta
Culpar a data
Para esconder
A falha inata
Grande clichê
Assim jogamos
O ano no lixo
Com champanhe
E chega-disso
Eu entretanto
Introspectivo
Cogito acerca
De estar vivo
E fazê-lo bem
Com boa saúde
Já que tantos
Nem saúde têm
Início ao fim
Meu dezesseis
Foi nota seis
Foi bom assim
O riso sobrou
Frouxo, livre
E as lágrimas
Igual as tive
Toda história
É desse jeito
Lá na memória
E cá no peito
O mundo segue
Suas rotações
Indiferente a
Tais comoções
Eu entretanto
Retrospectivo
Brindo! Salvo
Póstero juízo
31.12.16
29.6.16
Extrema esquerda, extrema-unção
Esse teu ódio é repugnante!
Já o meu, justificado:
Estou certo! Doravante
Quero te ver esmigalhado.
Tua nobreza é de fachada
Não vale uma puta rês
Já a minha é ilibada
Pois meus erros têm porquês
Até meu cuspe tem motivos
Republicanos e altivos
Pra viajar até teu rosto
Se provocado, posso tudo
Então prepara teu escudo
Porque vil serei com gosto.
*
Hipócrita é tua postura!
Vens me falar de ditadura
Tortura e o diabo a quatro?
Pintas, pois, o teu retrato!
Qual o pior, se não teu lado,
Que a humanidade já produziu?
Terroristas disfarçados
Pacifistas de fuzil
Então engole esse discurso
E o projétil obtuso
De saliva pegajosa
Me aclamará a minha claque
Por qualquer resposta de araque
(E tanto mais, se indecorosa)
*
Como uma turma de infantes
Meus coleguinhas de partido
Serão deveras provocantes
E sairei fortalecido
A minha falta de decência
É perdoável, pois sou do bem
Sou um herói da resistência
Portanto faço o que me convém
Mas responda a perguntinha:
Sou petralha ou sou coxinha?
Quem é que age bem assim?
Se já o sabes, só lamento
E penso ser um bom momento
Pra enxergar um pouco além.
*
Por que dividir o país
De maneira tão binária?
Só falta pontilhar a giz
Essa linha imaginária
"Daqui não passareis!"
Então esse é o melhor futuro?
Nos tolerar por força da lei
Mas, no fundo, almejar um muro?
Seremos sempre opressores,
Oprimidos e seus defensores
Nos alternando no poder?
Então não temos capacidade
De construir uma sociedade
Em que todos possam ceder?
*
Sendo esta a realidade
Renasce a tese da ferradura
Em que as duas extremidades
Têm a mesma cabeça dura
Esquerda e direita, por certo
Extremadas pelo momento
Estão uma da outra mais perto
Do que alguma delas, do centro
É fanatismo por todos os lados
Com sentimentos exacerbados
E, sim, até posso entender
Mas considero a atitude infantil
(Aquele Congresso é mesmo o Brasil!)
Temos muito, mas muito, a aprender...
18.4.16
És tu, Brasil?
Ai, meu Brasil
De pedaladas e pedalinhos
Meu Brasil varonil
Pátria-mãe do jeitinho
Ai, meu pobre Brasil
De bolsas e bolsonaros
De funk, favela e fuzil
E de playboys em Camaros
Meu Brasil brasileiro
De delações e doleiros
Pátria amada desfigurada!
Meu país-ostentação
Paraíso da corrupção
Ai, minha pátria amada...
8.4.16
Testamento
Quando eu vier a morrer
Quero virar semente
De algum outro viver
(Reviver, metaforicamente)
Quando enfim se encerrar
Esta minha jornada
Meu desejo é integrar
Outras caminhadas
Então quando eu me for
Façam-me o favor
De reciclar meu coração
E tudo quanto for possível
Prorrogar-me-ei, invisível
Em cada doação
24.3.16
De cima do muro
Pois privilegiado é o foro
Eu não o sou (e assim lhes juro)
Vocês debatem, convictos, o Moro
Eu fico em cima do muro
Reflito, pois nunca acredito
Em quem sempre tem certeza
Muito menos em partido
Que se serve à mesma mesa
Não é que ganhei aliados
Para lá de inesperados
Na luta anticorrupção?
Houve quem marchasse ao meu lado
Até ser descoberto culpado
De também lesar a nação...
*
Entre sujos e mal lavados
Não me permito escolher
Quero todos extirpados
Das hostes do poder
A situação é insustentável
A oposição, um balaio de gatos
Esse tecido social é lavável?
Ou só vamos trocar os ratos?
São questionamentos profundos
Mas de uma verdade eu comungo:
"Precisamos limpar o País!"
Só não fiquemos na primeira camada
Lava-jato em toda a cambada
Até lhes arrancar a raiz.
*
Quisera eu enxergar a verdade
Tão clara quanto seus analistas
Mas não creio em tal divindade
Então sigo sendo um "murista"
Daqui de cima, vejo dois lados
Que, para mim, se parecem demais
À esquerda, rincões de safados
À direita, problemas iguais
Ignoram seus próprios defeitos
(Imaginam-se quase perfeitos!)
Do alto do muro, enxergo a cilada
E torço que alguém compre a ideia
De entregar logo toda a alcateia
Em insuspeita delação premiada
*
Se quiser me chamar de coxinha
Elite branca e opressor canalha
Tudo bem! Também sou morrinha,
Comunista e bandido petralha!
Só não me venha usurpar o direito
De um olhar um pouco menos estreito
Porque o rival do meu inimigo
Não é, necessariamente, um amigo
Prezado ser político-partidário
Por favor, entenda este ente ordinário
Que repudia a visão maniqueísta
Preciso lutar à minha maneira
(Ainda que sem a sua bandeira)
Só assim será justa a conquista