Meu grito é mudo
É um quase nada no meio do tudo
Tão só um soluço e um soluço tão só
Que não é mais nada senão um nó
Na garganta.
Meu grito é silencioso
Grita exemplo e caráter orgulhoso
Sem ferir, exceto a si próprio.
Grita calado, afogando-se em ópio
Que nem a paciência é santa.
Eu grito
Por menos amores e mais amor,
Único e enlouquecedor
Por menos vaidades, egocentrismo e patronato
Por mais humildade, sapiência e anonimato
Eu grito por menos holofotes e mais vaga-lumes
De olhos brilhantes e pontinhas de ciúmes
Por menos sexo explícito e mais amor
Implícito em paredes quatro, beijo e aquecedor
Eu grito por menos mortos-vivos
E mais costuras de carne, alma e juízo
Eu grito de dor
(O mundo sufoca o peito)
Eu grito, insuspeito
Que eu só grito de amor.