27.10.13

Meu grito


Meu grito é mudo
É um quase nada no meio do tudo
Tão só um soluço e um soluço tão só
Que não é mais nada senão um nó
Na garganta.

Meu grito é silencioso
Grita exemplo e caráter orgulhoso
Sem ferir, exceto a si próprio.
Grita calado, afogando-se em ópio
Que nem a paciência é santa.

Eu grito

Por menos amores e mais amor,
Único e enlouquecedor

Por menos vaidades, egocentrismo e patronato
Por mais humildade, sapiência e anonimato

Eu grito por menos holofotes e mais vaga-lumes
De olhos brilhantes e pontinhas de ciúmes

Por menos sexo explícito e mais amor
Implícito em paredes quatro, beijo e aquecedor

Eu grito por menos mortos-vivos
E mais costuras de carne, alma e juízo

Eu grito de dor
(O mundo sufoca o peito)

Eu grito, insuspeito
Que eu só grito de amor.

22.10.13

Música


O olhar compenetrado
Do gênio determinado
Dedos que dançam nas cordas
Improvável bailado

Ritmada datilografia
Inesperada, fugidia
Amálgama de prática e dom
Que faz refém o tom!

Na extremidade do artista,
Seu instrumento
Naquele momento, dois num só

- Um sol! Que resplandece
No horizonte da alma
E ela se acalma... e ela se aquece.