Eu conto
Os minutos pra te ver
E as gorjetas de tempo
Quanto já foi? Quanto há em haver?
Eu conto minhas neuroses
Rindo-me, conto, rolando no chão
Conto o que vi de injustiças ferozes
E, justo, com minha própria compreensão.
Eu conto as pessoas na rua e os dedos de seus pés
Conto piadas – e perco as contas de quantas ouço –
Eu conto quantas vezes aquela senhora abre a bolsa pra esconder uns canapés
E quantos eu mesmo tenho no bolso (conto quantos, sei-los, mas não conto pra ninguém)
Eu conto histórias
Minhas glórias e fracassos
Eu conto.
Vou contando... calculando
As perdas e os ganhos
E o lucro
É o que sobrar
(Se positivo – e se sobrar –)
No fim de tudo.
No fim da minha vida
Cujos minutos eu conto
Pra não perder as contas
Do quanto já construí – que a vida é um incessante construir –
Conto pra não perder as contas
De quantas laudas já se contam
Desta longa e confusa missiva
Da qual sou destinatário e remetente
E conto, sobretudo,
Por garantia de que o final da minha contagem
Regressiva
Não soe vazio – “tão de repente” –
(13/01/2004)