Esse teu ódio é repugnante!
Já o meu, justificado:
Estou certo! Doravante
Quero te ver esmigalhado.
Tua nobreza é de fachada
Não vale uma puta rês
Já a minha é ilibada
Pois meus erros têm porquês
Até meu cuspe tem motivos
Republicanos e altivos
Pra viajar até teu rosto
Se provocado, posso tudo
Então prepara teu escudo
Porque vil serei com gosto.
*
Hipócrita é tua postura!
Vens me falar de ditadura
Tortura e o diabo a quatro?
Pintas, pois, o teu retrato!
Qual o pior, se não teu lado,
Que a humanidade já produziu?
Terroristas disfarçados
Pacifistas de fuzil
Então engole esse discurso
E o projétil obtuso
De saliva pegajosa
Me aclamará a minha claque
Por qualquer resposta de araque
(E tanto mais, se indecorosa)
*
Como uma turma de infantes
Meus coleguinhas de partido
Serão deveras provocantes
E sairei fortalecido
A minha falta de decência
É perdoável, pois sou do bem
Sou um herói da resistência
Portanto faço o que me convém
Mas responda a perguntinha:
Sou petralha ou sou coxinha?
Quem é que age bem assim?
Se já o sabes, só lamento
E penso ser um bom momento
Pra enxergar um pouco além.
*
Por que dividir o país
De maneira tão binária?
Só falta pontilhar a giz
Essa linha imaginária
"Daqui não passareis!"
Então esse é o melhor futuro?
Nos tolerar por força da lei
Mas, no fundo, almejar um muro?
Seremos sempre opressores,
Oprimidos e seus defensores
Nos alternando no poder?
Então não temos capacidade
De construir uma sociedade
Em que todos possam ceder?
*
Sendo esta a realidade
Renasce a tese da ferradura
Em que as duas extremidades
Têm a mesma cabeça dura
Esquerda e direita, por certo
Extremadas pelo momento
Estão uma da outra mais perto
Do que alguma delas, do centro
É fanatismo por todos os lados
Com sentimentos exacerbados
E, sim, até posso entender
Mas considero a atitude infantil
(Aquele Congresso é mesmo o Brasil!)
Temos muito, mas muito, a aprender...