Em Londres, a paisagem é cinza
De prédios antigos e neblina
Londres olha meio sisudo, ranzinza
O ar poluído de fumaça e buzina
Em Londres, a paisagem é vermelha
Dos ônibus, das cabinas de telefone
Dos cartazes nas lojas, dum olhar insone
Do trânsito, à noite; e de chaminés e telhas
Em Londres, a paisagem é azul
De um anúncio luminoso, da fachada de um bar
Da porta de uma casa, do encanto marejado de um olhar
Em Londres, a paisagem é amarela
De uma bandeirola na vila dos chineses, da roupa
Da louca da protagonista da peça de teatro, no último ato
Em Londres, a paisagem é sempre da cor
Dos olhos
Da alma
Das cores
Da vida
Do espectador.
Londres não cabe no cinza
Nem no branco, nem no preto
Londres não caberia num soneto.
Londres, essa imensidão
Não cabe em nada, nem em Londres
Pois não é concreta; é só inspiração.
(Londres, 24/01/2005)